1. |
Velho amarelo
04:25
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VELHO AMARELO
Não diga que estamos morrendo
Hoje não
Pois tenho essa chaga comendo a razão
Um velho amarelo
Com três guerras no peito
Mirando o parabelo diz assim:
Vai
Menina dos meus olhos
Penetre entre os olhos
Não há piedade
É só o fim
Vai!
Quero morrer num dia breve
Quero morrer num dia azul
Quero morrer na América do Sul
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2. |
Damião
02:06
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DAMIÃO
Dá neles, Damião!
Dá sem dó nem piedade
E agradece a bondade e o cuidado
De quem te matou
Dá neles, Damião!
E devolve o hematoma.
Bate mesmo, até o coma
Que essa raiva, passa nunca, não
Sangue e suor pelo vão.
Sentir mais a dor, vingar
Ver respingar o pavor
Quem bateu, levar
Dá neles, Damião!
Mesmo que peçam clemência
Faz que é tua essa demência
Faz pesar a consciência do plantão
Dá neles, Damião!
Mira no meio da cara
Dá com pé, com pau, com vara
Bate até virar a cara da nação
Sangue e suor pelo vão
Sentir mais a dor, vingar
Ver respingar o pavor
Quem bateu, levar
Dá neles, Damião!
Bate até cansar e quando cansar
Me chama
(a Damião Ximenes Lopes)
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3. |
Queimando a língua
05:04
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QUEIMANDO A LÍNGUA
É reto e sem risco
Pegando a língua/queimando a língua
De fogo, sem grilo
De qualquer jeito
De quase isso
De quase nada
É séria é bruta
Dissimulada
De nada serve
Sem ombro amigo
Com febre e confusa
E um precipício
E quase tudo
E quase fujo
Desvio teu riso
E me antecipo
Sem rosto, sem vício
Eu não existo
Não enxergo o final, interrompo o tempo aqui
Em você
Eu guio seus dedos me inclino pro sim
Em sinal, nem que eu queira compreender
Esse amor
Um tiro sem norte
Fugindo a regra
Dispara sem corte
O nome dela
E quase acerto
Seu endereço
Descubro, derramo
Um nome nela
Sua boca, seu dente
E o encarnado
Que corta e desmente
Meu samba armado
Que quase inventa
Uma novela
Pra ter seu instante
Ao lado dela
Sem rosto, sem vício
Eu não existo
Não enxergo o final, interrompo o tempo aqui
Em você
Eu guio seus dedos me inclino pro sim
Nem sinal, nem que eu queira compreender
Esse amor
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4. |
Pena mais que perfeita
04:16
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PENA MAIS QUE PERFEITA
Essa pena é mais que perfeita
Ela é estreitamente lenta
E na pele moura ela ferve escorando a alma
Essa pena é mais que perfeita
Ela risca em um negativo
E na pele moura ela ferve em foco invertido
E vou…
Eu vou assistir o filme
Por quantos dias espelhado
em minhas retinas?
Essa pena é mais que perfeita
Ela traça todas as lembranças
E na pele moura ela ferve numa contradança
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5. |
Odoya
02:49
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ODOYA
Odoyá
Yia omo ejá (mãe cujos filhos são peixes)
Ai, mãe
Agô, Yabá (abênção, mãe rainha)
Bença, mãe
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6. |
Ciranda do aborto
05:40
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CIRANDA DO ABORTO
Passa na carne a navalha
Se banha de sangue
Sorri ao chorar
Cobre o amor na mortalha
Pra ele não acordar
Sente no fel deste beijo
O agouro da morte
A se revelar
A vida sem endereço
E sem lugar pra ficar
Vem despedaçado
Vem, meu bem querer
Vem aqui pra fora
Vem me conhecer
A ferida se abriu
Nunca mais estancou
Pra vc se espalhar
Laceado
Mas o chão te engoliu
Toda a lida findou
Pra vc descansar no meu braço
No meu braço
Aos pedaços
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7. |
Canção pra ninar Oxum
03:25
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CANÇÃO PRA NINAR OXUM
Chora não, Oxum
De que chorar?
Sonha viu, Oxum
Sem lágrima
Hoje eu não vou deixar
Ninguém sofrer
Não quero ver a minha Oxum chorar
Colho os prantos sem deixar nenhum
Pra lhe acordar
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8. |
E o quico?
02:42
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E O QUICO?
Eu andava certa noite dia 13, sexta
Triste sozinho desnorteado perdido cabreiro besta
Resolvi sair por aí chutando pedras
Contando estrelas, cometas
Por dentro mil pensamentos
Perguntas do tipo:
Que vida é esta?
Que vida é esta?
Que vida é esta?
Que vida é esta?
Uma voz dentro da noite
Respondeu-me como assombração
Isso é tudo que te resta
Isso é tudo que te resta
Isso é tudo que te resta
Isso é tudo que te resta, ô meu
Eu disse: até amanhã
Tenho muitos compromissos
De madrugada vou pra França vou pra Nice
Fazer um curso de dança
A voz decretou-me:
Você vai mas você volta
Você vai zuuum mas você volta
Você vai mas você volta
Você vai mas você volta
Você vai dançar, mas você volta qui
Um disco voador
De mim se aproximou
De dentro dele uma voz
Aconselhou-me:
Sabe o que você faz?
Pergunta pra essa outra voz
Que parece assombração, o seguinte:
E o quico?
E o quico?
E o quico?
E o quico?
E o quico e o quico e o quico e o quico?
E o quico?
E o quico?
E o quico tenho com isso, meu?
E o quico tenho com is-so?
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9. |
Não tenha ódio no verão
02:52
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NÃO TENHA ÓDIO NO VERÃO
Não tenha ódio no verão
Você vai acabar
Comendo brasa no tição
Assando o rabo no fogão
Isso arrebenta uma nação
O ódio pega como planta que se rega
Mas no peito que navega
A pessoa fica cega
Cabeça oca
Sai de pau no bate boca
Rasga a roupa
Grita e berra como louca
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10. |
A velha da capa preta
03:47
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A VELHA CAPA PRETA
E a morte anda no mundo
Vestindo mortalha escura
E procurando a criatura
Que espera condenação
Quando ela encontra um cristão
Sem vontade de morrer
E ele implora pra viver
Mas ela ordena que não
Quando o corpo cai no chão
Se abre a terra e lhe come
Como uma boca com fome
Mordendo a massa de um pão
E a morte anda no mundo
Espalhando ansiedade,
Angústia, medo, saudade
Sem propaganda ou esparro
Sua goela tem pigarro
Sua voz é muito rouca
Sua simpatia é pouca
E o seu semblante é bizarro
E a vida é como um cigarro
Que o tempo amassa e machuca
E a morte fuma a bituca
E apaga a brasa no barro
E a morte anda no mundo
Na forma de um esqueleto
Montando um cavalo preto
Pulando cerca e cancela
Bota a cara na janela
Entra sem ter permissão
Fazendo a subtração
Dos nomes da lista dela
Com a risada amarela
É uma atriz enxerida
Com presença garantida
No fim de toda novela
Disse a morte para a foice:
Passei a vida matando
Mas já estou me abusando desse emprego de matar
Porque eu já pude notar que em todo lugar que eu vou
O povo já se matou antes mesmo de eu chegar
Quero me aposentar pra ganhar tranquilidade
Deixando a humanidade matando no meu lugar
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11. |
Presente de casamento
01:18
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PRESENTE DE CASAMENTO
Perguntado
Sobre o que aconteceu
O velho respondeu
O velho ali sou
Eu que falo
Aquela é minha voz
Que fala sobre nós
A voz ali é
Nós dois deitados
No meio do incêndio
Queimando em silêncio
O fogo ali é
O meu presente
Do nosso casamento
Que já morreu por dentro
Bem antes de você ter me...
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12. |
João Carranca
02:00
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JOÃO CARRANCA
Guaraci vadiava e só fazia isso
Foi sempre a rainha da boca do lixo
Mas o tempo passou e ela envelheceu
Usou e gastou o corpo que deus lhe deu
Nunca teve cafetão
Nem leão de chácara
Apenas uma navalha
Banca e sustenta o meninão
Que ainda cheira a leite
E nem tem pelo na cara
Mas tudo desandou depois do dia
Em que ele resolveu causar suspiro nas mocinha
E a velha enciumada
Retalhou o rosto do rapaz
E o que era belo
Agora espanta
E nome dele hoje é João Carranca
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Juçara Marçal São Paulo, Brazil
Juçara Marçal is a brazilian singer and a member of the group Metá Metá. Her fist solo album ENCARNADO was released in 2014 and It was considered the best album of 2014 by APCA (Paulista Association of Art Critics). The partners of this project are Kiko Dinucci, Rodrigo Campos and Thomas Rohrer. Released in 2021 her second solo album, DELTA ESTÁCIO BLUES. ... more
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